terça-feira, janeiro 15, 2008

Uma vez por mês

Admito que acontece, às vezes,
um aviso em meus ouvidos,
um clarão encimesmado na noite,
um som de rádio ligado,
uma descarga de madrugada,
alguém falando, falando,
o silêncio imenso de mim mesmo
me fazendo em pedaços.

Reconheço que o ensino é factual,
que a rua não é minha,
o chão não é meu,
nem são minhas as figuras
abobadas que, diuturnamente,
desenho.
Tampouco me arranjo aos domingos,
não visito igrejas,
desconheço qualquer deus
que não seja bom nem invisível.

Mas uma vez por mês solto um grito.
Uma vez por mês me debato
entre o absoluto e o não-descoberto.
Uma vez por mês saio às ruas
e sorrio como um hipócrita:
creio em destino, na sorte e no governo.
Apenas uma vez na vida
tenho um ar firme e ousado,
atravesso pontes.

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