domingo, janeiro 31, 2010

PLANETÁRIO

1. A destilação do corpo.

Meu corpo se abre no madeiro
Onde a fuga é o grito
É o corpo de milhões
Lasca de mato desfalecido.

Silêncio, se pinta na noite
Breu, redemoinho em volta.
Silêncio, poema em prece
Tarde que suave desce.

Corpo em pontes de luz
Milhões como um grito
Desfalecido madeiro
Poema em prece. Silêncio.

2. O corpo como prova da morte.

Sempre limpo, o corpo surge
Como um paletó intacto:
Tema da novela nortuna,
Onde o galã se exibe como
Um pavão aceso.

Rasgado o corpo surge
Expondo carne, morte,
Ânsias de cartas recém-jogadas

Há um circulo, criado pelo
Tempo
Compacto e largado na mesa
Como um maçã de plástico.

Na gangorra da vida
Ainda existe o limo
Verde e farto limo
Que prepara a queda

Fatal e inexorável.
Seja presente ou seja
Passado.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

A dor




A dor se veste de clara roupa.
Chama-se poesia,
Chama-se suspiro.
Chama-se longa caminhada.

Chama-se moça na janela,
Chama-se fim do dia, o sol
Se pondo numa estrada imensa.

A dor se veste de chuva
Causa inundações
Destrói plantações
Invade campos.

A dor (poesia), se veste
De anjo e morte,
As vezes de sopro e sorte.
Sempre em cores
Insustentáveis.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

O afastamento

Diamantina, Minas Gerais

Rio Negro, a 60 km de Manaus, dentro da selva amazônica

Porto de Manaus (Rio Negro)
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By Mauro Pereira da Silva

Um outro homem,
Me vi no espelho.
Era uma careta, amedrontada
Já com cabelos brancos
Iniciando a jornada
Da penumbra.
Já não existia o riso
De antes,
A rua de sol,
A casa verde-clara,
O cão amigo.
Já não existia a escola
No campo,
Os amigos jogando
Bétia, os rios
De domingo.
Um outro homem
Me vi,
Já não mais riso,
Já não mais coração
Amplo e claro.
Mas só um traço.
A sombra da dúvida.
O afastamento
Dos dias imensos.

Pensando em Floripa



Florianopolis, Santa Catarina
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Imagino a fúria
Do teu beijo.
Muitos se deleitariam.
Uma sala escura e
Sombria
É o estar longe
Do teu peito.
É puro, o andar
Da gazela
De pernas longas
Pelo campo
Florido.
O cuidado
É sempre o olhar
Da fêmea
Acasalada.
O desejo,
É sempre a força
Das múltiplas
Águas
Molhando
O ninho.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Anunciato



Monte Verde, divisa do estado de São Paulo com Minas Gerais.
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By Mauro Pereira da Silva

Em dobras
Os joelhos estão sob oração.
Ai Senhor dos Exércitos, acuda
Pois não há guardas em meu coração
De homem.
Acuda, que enterradas as palavras
Só me restam as moscas
E os livros.

A tempo, ainda não me fiz Lázaro.
Um lençol marmóreo jaz
Sob o corpo.
A tempo, tudo o que me
Espanta
É tão raso e feio,
Tão ínfimo e cruel.

Tenho fome,
De letras, sopros de
Anjos pernaltas.
Tenho fome de círculos
De Deus pai,
Aquele que foi concebido entre
Dores de parto.

Tenho visões,
Vejo Cristo rindo e
Gargalhando,
Todo o mar da Galiléia
Explodindo em peixes.

Vejo João, vejo Pedro
Vejo o lado direito
Do coração explodido
Vejo serras e vejo rios.
Mas não me vejo, ó pai.

Vejo meses iguais, sempre
O mesmo vale,
Minha cidade longínqua,
Aberta aos meu dedos e olhos.

Vejo uma varanda
Meus avós
Meus tios,
Minha mãe
Nas noites mornas
Da Rua Acre.
Meu reino de luz
e risos.

Ázimo

Monte Verde, divisa do estado de São Paulo com Minas Gerais
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Toda a pressa do mundo
Estaca na esquina,
Naquele farol
Aglomerado de terra rubra
Noite imensa
Vida multiplicada
E insana.
O gado rola, implume.
Todo o seu transe é fundo
De larvas e postais.

No começo as patas
Sabem seu lento caminhar.
Misturadas ao sabor do sol
Como signos de linguagem
Estampam nos rostos
Dos paulistanos,
Pães ázimos pela rua
Namorando.

A chuva vem,
Chuva de leste a oeste,
Entre as marginais,
Tufos de água e barro.
Chegada de quem
Ainda não sabe
Sobre a locução
Da palavra Amor.

Afinal, o que sabem
Os homens?
O que sabem,
Os repartidos
Os esfomeados?
O vento tece musgos.
Cai o céu de anil.

Os navios e seus mortos

Monte Verde, divisa do estado de São Paulo com Minas Gerais
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By Mauro Pereira da Silva

Com navios,
E alguns sonhos
Tudo pode ser atingido
Por bem pouco:
O sol
Da tarde,
O carro,
Que passa.
Com seus mortos.
Os navios passam
E levam o que ignoro.
Saciados de gente,
Em sua algibeira
De ferro e aço.
Engolidos,
Pelo dia contumaz.
Me resta o salto,
A curvatura
Do circulo,
O remorso
De não ser mais
Jovem.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Feliz Natal, excelente 2010!


Abraço a todos os amigos! Apesar de não comemorar o Natal, desejo a todos um ótimo Ano-Novo. Mais um ano, mais cabelinhos brancos, alguns amigos que se foram - infelizmente, e aqui vamos nós, sobreviventes, adentrando 2010

Que venha!

"Quem se vence, vence o mundo." — Vincere cor proprium plus est quem vincere mundum.