quinta-feira, setembro 06, 2012

UM TRAÇO


                                          
                                Foto de Mauro Pereira da Silva - Pitangui, Minas Gerais

A voz quase inaudivel procura cristais
Suficientes caldos que descobrem trens antigos
Jogados em uma velha estação.
Cercada de beleza os quadros pintam cenas
Que eu sei, já se foram, em longinquas valsas.

Quando cheguei, a tarde declinava, o sol
De domingo qüarava roupas em quânticas
Fórmulas, simplificadas em bilhetes curtos.
É só forçar os olhos para se ver as mãos de Deus
Desenhando tudo, de pequenas cores até
Absurdos mantras radicais.

Vagos planos me trouxeram.
Fotos desfocadas iniciaram roteiros
Preso a datas longiquas, manhãs de sol,
Ruas empoeiradas e hoje ilegítimas.

Mas sou protagonista e inicio um gesto
Ligo o que vejo, ouço e penso a tudo isso
E os trens, o bairro antigo, calçadas que pisei
Compõem um traço do que sou, talvez
Desbotado pelo tempo, mas sem duvida,
O melhor exemplo de mim mesmo.

EXTERIORIDADE



Foto de Mauro Pereira da Silva - Extrema, Minas Gerais

Tenho desejos esquisitos pela manhã, afã de um princípio qualquer de leveza, tentativa de ver além do que vejo, a visão crua do dia, do sol invadindo as macieiras, dos homens carregando enxadas e assobiando uma canção qualquer. Tenho desejos estranhos de macho, a poesia permanente á beira de minha cama, uma luz filtrada pela fresta da porta me avisando que o mundo exterior ainda existe e que eu, queira ou não queira, estou inserido nele, minha prisão e meu medo.

UMA IMAGEM DO TREM E DO DIA

                                    
                            Foto de Mauro Pereira da Silva - Pitangui, Minas Gerais


O trem passava ao meio-dia.
Pros lados da linha,
Uma eternidade de sol e pedras,
Braços acenando,
Sorrisos esperando o almoço.
Quando havia geada o capim brilhava
E meu avô me mandava cuidar das cabras,
O leite, sagrado, da família.
Ainda me dói aqueles dias,
De sol e canto,
De mãos e pelejas
Os bichos que corriam às vezes
Sob a luz da tarde que mais parecia
Uma lanterna de Deus,
descerrando a noite.
As ruas desatavam cores,
Com uma agilidade gritante
Felizes eram os dias.
Pros lados da linha,
Marcados pelo apito intenso do trem
Que passava, cantarolando nos trilhos,
Levando passageiros
Ninguém sabia pra onde.