quinta-feira, março 29, 2007

Crescente

Grandes luas desenham o crescente,
Alguns ramos, riscos desmaiados contra o clarão do céu
Me deixam estático, asperamente largado,
Entre eternos gritos e luzes.
Grandes luas querem espaço na cidadela sitiada
Que compõe a tarde, atrás dos prédios,
Apartamentos ocos de inexplicáveis sonos.
Embebido em dor, olho a corrida plena
Entre carros e pessoas desconexas
Largadas
No vazio dos imensos promontórios.

domingo, março 25, 2007

No caminho da escola

Na rua Acre, entre a Santa Terezinha e a Avenida Bandeirantes existia uma mata, onde eu sempre entrava quando ia para a escola. Naquela época, não havia perigo, ou se havia, nunca pensei a respeito. Minhas visitas eram sempre à procura de ninhos de passarinhos que existiam por ali, em sua maioria, de pardais.

Descobri vários. Os filhotinhos quando me viam, começavam a cantar, e me lembro claramente dos seus biquinhos abertos, esperando comida. Maldosamente eu cuspia neles e eles se empanturravam com o cuspe. Me pergunto, às vezes, por que as crianças são tão maldosas? Naquele tempo a Rua Acre não era asfaltada. Caminhei muitas vezes pela areia quente com meus sapatos gastos e meu embornal de escola. Sim, eu ia para a escola com um pequeno embornal, onde levava o caderno, o lápis, a borracha e a cartilha "Caminho Suave". Não havia esta parafernália que hoje vê-se as crianças levando para a escola. E o interessante também é que, contrariando a teoria do senhor Paulo Freire, minha salinha escolar era dividida em três fileiras duplas de alunos. A primeira à esquerda da professora era a dos mais adiantados, a do meio a dos medianos e a da direita a dos mais fracos. A professora tinha uma estratégia para ensinar de acordo com o nível do aluno. Comecei na fileira do meio e logo fui para a da esquerda. Aprendi muito, tive um ensino espetacular, numa escolinha localizada no sitio do seu Paulo Marinho.

Hoje, há tantas técnicas, tantos cadernos, tantos lápis, tantas professoras, que os alunos estão cada vez mais mal formados, mais imbecilizados.

Certo dia, tive a idéia maliciosa de levar uma amiguinha de escola para a mata e não era propriamente para ver os passarinhos. Usei-os como isca. Você quer ver ninhos de passarinhos? Sim, quero, respondeu ela animada. Então vou te mostrar. E ela foi, ingenuamente. A minha curiosidade sexual era imensa. Eu havia escutado uma amiga de minha mãe contando como foi sua lua-de-mel e tinha ficado estarrecido. Ela disse que o marido havia rasgado sua calcinha, com tamanha voracidade, que havia ficado amedrontada. Isso em meados da década de 60, quando se casou. Fiquei pensando: como era isso?

Minha amiguinha viu os passarinhos, enquanto eu acariciava suas pernas. Enquanto ela alisava a cabeça dos filhotinhos, eu levantava seu vestido. Quando ela começou a fazer beicinhos para os bichinhos, eu já havia abaixado sua calcinha.

A rua e os velhos espelhos

Surpreende sempre a água desta fonte.
Logo vem o transbordar entre os mirtos
Amáveis letras abrindo trilhas parecidas.

Abro as venezianas, enxugo os restos do dia
Expulso da garganta a trava descoberta e sorrio
Maneira de tragar a luz e os espelhos desenhados.

Em direção à aldeia caminho, já antevendo
A antiga rua e os fios do tempo envelhecido
Vinho vermelho numa jarra sobre a mesa.

Velhos amigos sorridentes pelo retorno.

sábado, março 17, 2007

Livro "Soldado à beira da fuga"

O livro está à venda em www.livrariaphylos.com.br
É só dar busca pelo titulo.

Quem tiver dificuldade em acessar, por favor, mande um email para phylos@livrariaphylos.com.br que será prontamente atendido.

Algumas pessoas tem me perguntado se todos estes poemas do blog estão no livro.
Nem todos.
Alguns são recentes e poderão ser copiados, desde que me peçam permissão.

Todos, exatamente todos os textos já foram ou serão registrados na Biblioteca Nacional, apenas por prevenção e garantia.
Aos amigos que me visitam e preferem mandar email, sem problemas.

O importante é o contato.


Abraço cordial



Phylos


Mais que goles

Rumores estacionam.
E vista d’olhos me dizem que já não ouso continuar.
Penso em detalhes, ruas pequeninas e transtornadas,
Estreitas passagens que sequer me comportam.

Fora, qualquer pessoa me agride. Fora, as coisas
Não se firmam nem são tão pequenas a ponto
De não mais me incomodarem.
Escrevo um volume absurdo de contos,
Colares, prumos, cumeeiras sujas por
Pés de passarinhos.

Iludo-me, os hunos já não me apavoram.
O gramado cresce, avanço despreparado
Como um senhor sem destino.
Me coloco à direita das ruas. Desejo mais
que goles, desejo a noite negra e descontrolada,
Os cheiros d'alma tomando
As ruas, a cidade pintada de gritos,
muitos deles meus, supremos gritos.

Há rumores, eu sei, mas não são deste lugar.
Vieram de longe, quem sabe, trazidos pelos carros,
Carruagens vestidas de lata onde homens jazem
Escondidos, reflexos de outros já mortos e
esquecidos.

Um fragoroso céu iluminado por luas.
Um caminho proibido, além de mim o fervor
Realinhado, desenhado em meu rosto rendido.
Anos decorreram e não aprendi como escapar
Das sombras, das trincheiras
e dos minutos.

Peculiares abrigos

A cidade demanda palavras já mortas
Refulgindo ao sol do meio-dia, entre ardentes coxas
Sucessivas meninas que desfilam mistérios.
A mesma sombra subsiste entre tempos e vacilos
Distendidas mãos, corpos latentes,
Palavras que já não uso, conchas onde não
Ouço mais o mar, onde peculiares abrigos
Me escondiam:
Confirmo regressos, destaco palmas
Na porta da antiga casa onde antes eu
Existia.

segunda-feira, março 12, 2007

De todas as partes, só me fica o meio

De todas as dores, só me fica a queda.
Um pulo, algo insuspeito e ingênuo.
Uma tela, onde o pincel do artista,
aos poucos completa a imagem que lhe veio
em sonho.
De todas as partes, só me fica o meio.
Não a completo, não a escrevo: fica no ar,
punhal em forma de vento.

sexta-feira, março 09, 2007

Viagens (São Lourenço - Minas Gerais)

(Ator que faz show dentro da Maria Fumaça)
(São Lourenço - Parques das Águas)
(São Lourenço - Parque das Águas)

(Cantadores que fazem um show no trem durante percurso São Lourençoa - Soledade de Minas)




(São Lourenço - locomotiva que faz o trajeto até Soledade de Minas)


(Matriz de São Lourenço - Minas Gerais)


São Lourenço me surpreendeu, aliás, Minas Gerais me surpreende sempre. Uma cidade simpática, com um belo parque de águas, uma rede de bons hotéis. Imperdível é esta viagem de maria-fumaça entre São Lourenço e Soledade de Minas. Uma dupla caipira faz uma cantoria, excelente por sinal, e um ator interpreta um caipira. Carrega uma galinha, que faz parte do show. Ri muito. Um detalhe especial, é que me aconselharam a comprar balas, porque durante o trajeto as crianças dos povoados ficam na beira da linha do trem esperando que os passageiros atirem balas para eles. Lembrei-me de minha infância em Andradina, quando o trem Passageiro passava e eu também ficava esperando que os viajantes jogassem balas.















Viagens - (Cruzeiro - Poços de Caldas)

(Cruzeiro - entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, indo para São Lourenço)
(Canal de Poços de Caldas - Minas Gerais)
(Poços de Caldas - Minas Gerais)

(Sorocaba - Estado de São Paulo)

Gosto de viajar, é talvez meu segundo vício depois dos livros. Estas foram as primeiras fotos que tirei com minha digital, ainda deixando a data nas fotos. A estrada de Cruzeiro a São Lourenço, Minas Gerais, é a estrada mais bela por onde já passei. Nunca vi igual, com as montanhas azuis quase tocando o céu e o horizonte com uma cor meio ferrugionosa. Em alguns lugares um nevoeiro muito charmoso.




segunda-feira, março 05, 2007

Sentinela

Duas ou mais vezes ao dia me protejo.
Regresso a antigas casas, quartos
que me esconderam,
que antes juntaram pequenas partes
desconstruidas.
Não sou mais inatingivel, imensas
e crescentes aflições tomam o dia.
Bons tempos me ferem, luares impertinentes,
madrugadas indestrutiveis cintilando flores.
Já não sou mais regresso, nem conselhos
de sesmarias.

Sinais vertiginosos me saltam aos olhos
olho o chão, avisto aberturas igual aos últimos anos.
O rosto de homem transparece remontado no dia,
Um quê de nostalgico pinta as frutas
de um mercado e qualquer coisa, qualquer coisa
blinda meu peito de caipira.
Fica na boca um gosto de cassis,
mamão vermelhinho, tropas estelares
disparando armas na rua de areia.

Sigo desprendido e desusado.
Já não sou mais abrigo.
Anos decorreram, anos me obrigaram
a enxergar cristais, panos, quadros em cores,
degraus onde talvez coubessem meus passos.
Às vezes uma luz crespuscular me cega.
Às vezes uma
luz me
cega.

Tantos anos

Estacionada, a vida insone no quintal desarrumado.
Roupas qüarando, a vibração de um mundo verdadeiro
de roupas emboloradas e céu cinzento.
Há odores de pessoas trabalhando
um sorriso desdentado de um velho
e eu, que me esqueço às vezes de ser razoável,
preciso urgentemente de uma janela.
Nomes de mortos já na agenda.Tantos anos.
Cães perdidos numa rua mais perdida ainda.
Uma moça feia se manifesta entre as beladonas,
Admiráveis Mundos Novos,
gritos calados numa tarde de 34 graus.
O prédio tremula sob o calor, suas grades desmaiadas
me ferem a vista. Mas não me calo,
deixo impresso no horizonte meu desabafo.

domingo, março 04, 2007

Os malucos de Andradina

Saí de Andradina há muito tempo, lá pelos meados de 1974. Voltei em 1977, morei 1 ano e depois só voltei a passeio. Por isso, as pessoas que me ficaram na memória, foram as pessoas que conheci na época. As esquisitas, já não me lembro mais.

Mas graças a uma listinha do Orkut colocada pelo Oshiro, fiquei conhecendo algumas figurinhas atuais. Pessoas que são verdadeiras caricaturas, engraçadas, exóticas, bizarras, que existem em qualquer comunidade e que existem em Andradina City também. Então lá vai:


RANKING TOP 10 – OS MAIS MALUCOS DA CIDADE

1º: Damião – Jardim Santa Cecilia - Já meteu a faca em meio mundo. É um perigo. Tem espírito de médico cirurgião, mas não conseguiu estudar, então usa a faca nos mais próximos.

2º: João Geléia – Bairro Piscina - Detesta ser chamado principalmente de João. Mas afinal, não é este o nome dele? Estranho...

3º: The Flash – Vila Mineira - Anda rapidinho pela city toda pedindo café. Já deve ter tomado uns mil litros de café nessa lida....

4º: Rei - Av Bandeirantes ao lado da Coca – Completamente doido, já pulou até do pontilhão. Desespero? Falta de dinheiro? Dor de corno? Ninguém sabe.

5º: Lena – Rua São Paulo/ Bairro Piscina - Endoidava e saia andando pelada pelas ruas. Detalhe: pesa uns 180 quilos. Linda de morrer.

6º: Gê – Bairro Piscina e redondezas - Detesta que façam "pá" perto dele. Antigamente era muito violento.

7º: Cida Doida – Bairro Gasparelli – Xaropeta total, fala sozinha, entre outras coisas.

8º: "60", "bip-bip" - Anda com uma carriola. Antes de ir preso era muito violento.

9º: Cheiroso - Sem endereço fixo- Também conhecido como Bob Marley. O cara fede muiiiiito. Horrível.

10º: Seu Julio do Fiat- Bairro Santa Cecilia – Detesta que digam para pagar o Fiat 147 que ele amassou com sua carroça. Costuma ter, nestas ocasiões, verdadeiras crises de fúria.

quinta-feira, março 01, 2007

Algumas fotos de Angra dos Reis

(No Caminho de Mangaratiba)
(Ilha defronte o Colégio Naval em Angra)

(Um dos melhores restaurantes da Marina de Angra)

(Marina de Angra)

(Condominio PortoReal Resorte)
O interior do estado do Rio de Janeiro, apesar de mal cuidado, péssimas estradas, mato cobrindo as placas, mesmo assim, tem lugares interessantes. Já fui em Vassouras e em todo o Vale do Café (www.valedocafe.com.br), Petropolis, cidade que todo brasileiro deveria visitar.

Desta vez, fui conhecer Angra dos Reis, um lugar que é a cara do Brasil: lindissimo, com luxo e pobreza ocupando quase que o mesmo espaço. De um lado, barcos e lanchas de 10 milhões de reais. Do outro, casebres nos morros, aslfato quebrado, cidade de trânsito ruim e o clássico desrespeito carioca aos sinais de trânsito. Tem um túnel, depois de Rio Claro (atenção, existe uma Rio Claro paulista e outra carioca, próxima a Angra), que foi feito na pedra, tétrico, escuro, horrivel. Deve ter sido feito por Dom Pedro II. Quem tem problemas com ambientes fechados como eu, passa mal.