domingo, outubro 18, 2009

Brasil profundo

Diamantina, Minas Gerais, outubro/2009


sábado, outubro 10, 2009

Oração de sábado

Foto de Mauro Pereira da Silva - Diamantina, MG, outubro/2009 (Estátua de Juscelino)
Foto de Mauro Pereira da Silva (Diamantina, MG, outubro/2009)

Tende misericórdia, senhor, pelas pequenas aves
Os brotos verdes das plantas
Os gravetos que, na chuva, ninguém sabe
Para onde vão.
Tende misericórdia, senhor, pelas nuvens,
Que somem no céu azul e jamais se sabe
Que fim levam, quando não viram água.
Tende misericórdia, senhor, pelos perfumes
Que se volatizam, pelos cãezinhos que andam
Distraídos ao lado de avenidas perigosas.
Tende misericordia, senhor, pelas avenidas,
Que levam e trazem, num trabalho sem fim,
Mas que convivem também com a solidão
Dos domingos sem transeuntes.
Tende misericórdia, senhor, por aqueles velhos
Que viveram sem ver, que amaram sem sentir.
Pelos que partiram e jamais voltarão,
Pelos campos desanimados onde mais nada cresce.
Tende misericórdia, senhor, das mulheres solitárias
Dos homens maus, dos muros inacabados.
Dos gritos na noite, das mortalhas infantis.
Tende misericórdia, senhor, dos atos falhos,
Das corredeiras secas, dos motores calados.
De tudo que anda, vive, e planeja.
De todas as raças, credos e cores.
De todos os lados, mundos e esferas.
E se por acaso sobrar misericórdia,
Tende misericórdia de mim,
Que vivo triste entre pedras.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Caricia última

Foto de Mauro Pereira da Silva

A paisagem do que sou
é uma contradição.
Para falar, escrevo e escrevo,
crio frases
Para mim perfeitas e condescendentes.

Para viver busco
corações que não choram
Castelos escondidos
entre a mata escura.

Palco sou, somos todos,
onde os atores
São reflexos de outros, mais antigos.
Paradoxos afortunadamente descritos
Do modo mais terno
e descomplicado.

Brindemos todos à morte,
esta única culpa.
Desconcertante como um carinho distraído.

Aveludados

Foto de Mauro Pereira da Silva
Perguntou-me se a porta aparece ou desaparece.
Respondi, já não sei o que me comove.
Insistiu diante de mim, passados minutos
Como se a fúria estivesse em pessoa
Fazendo o jogo na mansarda e nas constelações
De pessegueiros, aveludados e francos.
Respondi, já não sei o que me comove.

Compreendo como homem que nada,
É o centro das coisas contraditórias.
Compreendo como homem que nada
É notável ou maravilhoso, apenas são
Súbitos, qual mármore preto em fachada.

Perguntou-me se o mais infeliz dos seres
Reprovam a vida, escalam montes de pó
E nada perguntam que seja de véspera.
E respondi finalmente, que nada mais
Me comove, mas como homem
Ás vezes choro.