sábado, agosto 18, 2012

Poema a São Paulo, capital dos paulistas


Ainda morrerei nesta São Paulo complexa e ambígua,
Vastidão de cimento e aço, devoradora de homens e mulheres.
Ainda morrerei aqui, ilhado pela sua espessa harmonia, pardas noites,
Filhos gritantes e escandalosos, carros zunindo em altas horas da madrugada.
Ainda morrerei nesta cidade imensa, adorada por Nordestinos, detestada por Cariocas,
Que o Centro-Oeste desconfia, o Norte só vê pela tevê e os Sulistas esnobam,
Mas que o Brasil respeita e teme.

Ainda morrerei nesta ilha de riqueza e luxo, de pobreza e morte, de dores urbanas
Lixo e luxo, grana e glória, cidade onde – Brasília sabe -, está realmente o Poder:
Aqui se constrói e destrói, simultâneamente, aqui se chora e ri, simultâneamente,
aqui, se morre e se vive entre dores de parto, filhos que somos desta colméia infinita e poderosa.
Ainda morrerei aqui, cidade maldita e amada, puta e santa.

Ainda sentirás o gosto do meu sangue, dos meus ossos, caipira que te adotou
Como cidade amada, concubina, mãe e senhora dos meus dias, onde trabalho e vivo.
Ainda morrerei em tuas ruas, em plena Paulista, ou em qualquer canto obscuro
E nefasto de tuas ruas e minhas cinzas, de Vila Alpina,
Se espalharão noite adentro pelo seus vales e avenidas, bueiros, bares, escritórios.
Ainda morrerei nesta São Paulo de paulistas rápidos e eficientes,
Bons de negócio, ligeiros em suas conquistas: práticos, como só os bandeirantes sabem ser.

Ainda morrerei nesta cidade que molda espíritos em aço, mescla raças,
Onde japoneses namoram loiras, loiras namoram mulatos e a cor da pele não é importante.
Cidade de muitos corações, onde povos e raças se unem em uma só palavra: cordialidade.
Ainda morrerei nesta São Paulo fatídica e noturna, invadida pelos carros,
Desnorteda pelo seu próprio caminhar, ás vezes por tantos contratempos
(metrô, greve, enchentes, chuva, Marginais paradas, a passeata que ocupa e invade).

O meu ódio por ti, só é superado pelo imenso amor que te tenho, cidade maldita,
Que reveste minhas veias de paixão e maciez, de luzes e sons, de pizzas, shoppings, arte e cultura.
Cidade inequívoca, capital de um estado que um dia tentou derrubar o ditador Getúlio,
Onde um dia Mario de Andrade em plena Revolução de 32, disse:
“Eu daria tudo para que São Paulo se separasse do Brasil”.
Mas eu pergunto, mestre Mário, como poderia o Brasil viver sem seu coração?

Ainda morrerei nesta cidade. E em mim, resta a esperança de que meu espírito aqui permaneça,
Sentindo como sinto agora o peito cheio de respeito por esta cidade que nos engole, mistura, mescla,
Mas ao mesmo tempo nos espanta e consagra:
Teu nome é imensidão.



terça-feira, agosto 07, 2012

RISCO

Teu corpo é branco, liso.
Cânion meigo e suntuoso, neve impressa no ocaso do dia.
Ninguém à vista, só a largura imensa dos teus flancos.
Expressão de chuva, batuque de valas,
Mina de ouro enchendo vagões pra lá de extensos.

Teu corpo – risco, golpe, labirinto - , é som de picos, claridade e neve,
Gente falando em domingo de ruas.
Caminho errado talvez, trilha perigosa,
Placa impenetrável que nos indica ventos.

(Era larga a rua. Um feroz e selvagem sol caia sobre o bairro.
Plantas cintilavam com uma gentileza quase feminina,
De corpo esguio,
De ferozes cores arrastadas pelo chão de terra).

Já não tenho medo.