sábado, abril 30, 2011

São Paulo, sábado

 
De encontro ao vento, o suéter suspenso
Sobre os ombros
Cruzo  a rua, o céu adormecido
entre riscos azuis e pássaros.
É bom sentir a vida, penso,
É bom andar e ver os prédios
São Paulo intensa, estranhos palitos
Onde pessoas habitam, namoram,
Casam, morrem.
Espelhos de si mesmos.
O chão negro de piche move-se
Uma planície compacta de carros
Buzinas,
A rasa existência tentando respirar
Superar o mar de pernas e braços,
Eternos e cinzentos corpos
Buscando abrigo
Ao longo da calçada.

Mas ainda assim
O sol morre no horizonte
E lança fachos de luz
Vermelha, o arrebol
Disparando púrpuras
Sobre as colinas
num espetáculo de
doer o coração.

quinta-feira, abril 14, 2011

Os pães e as broas

Foto by Mauro Pereira da Silva

Os pães de abóbora descansam desde ontem
Parentes que são do ocaso, das broas
das expontaneas frestas e das portas.
Atadas ao chão as folhas se atolam
E não mais se mexem, nem se afastam
Neste outono melado de passados.

Sobre as cores o homem equilibra-se
Balancim do tempo, pantanal da dor
Meias e calças molhadas pelo arroio
Lamaçais e frestas, vozes transpostas
Observando aquilo que sempre esteve
Mas nunca foi visto, nem rezado:

O próprio sabor das coisas e de tudo
Perdidos no vento e nas esquinas
A rica cintilação do ouro que somos
E que se esvai vagamente como rodas
Na frente dos anos, atrás da memória.