domingo, abril 01, 2018

O MARRUÊRO - Catulo da Paixão Cearense


Sá dona, eu sou marruêro! ...
Nascendo cumo tinguí,
fui ruim cumo piranha,
mais pió que sucuri.
Pixúna daquelas banda,
véve a gente a campiá! ...
Deus fez o hôme, sá dona,
prá vivê sêmpe a lutá.
Meu pai foi bixo timíve
e eu fui timíve tômbém!
O pinto já sai do ovo
cum a pinta que o galo tem.
Se meu pai foi marruêro,
havéra de eu tá na tóca,
a rapá no caitetú
a massa da mandioca?!
Bebedô de manduréba,
pissuindo carne e caroço,
eu nunca vi cabra macho
que fizesse sobrôço!
Nunca drumi uma noite
imbaixo de tejupá! ...
Nasci prá vivê na gróta,
prá vivê nos môcosá ...
prá drumi longe dos rancho,
purriba duns gravatá ...
vendo a lua pulas foia
d'um férmoso iriribá!
Nos gaio da umarizêra,
o cantá do sanhassú;
na bôca triste da noite,
o gimido da inhabú ...
as tuada da cabôca,
lavando n'água do rio,
e os canto, prú via dela,
nos samba ..nos disafio ...
nada disso, não, sá dona,
me dava satisfação
cumo o mugido bravio
dos valente barbatão!
Lá prá as banda onde eu vivia
já si falava do amô:
todas as boca dizia
que era farso e matadô!
Catulo da Paixão Cearense, nasceu em São Luís do Maranhão ( São Luís, 8 de outubro de 1863 — Rio de Janeiro, 10 de maio de 1946)
"Panorama da Poesia Brasileira - Fernando Góes, Editora Civilização Brasileira, 1960"