domingo, maio 10, 2009

Um olhar vermelho de quem chegou

(Foto de Mauro Pereira da Silva - "Castelinho" em Itapura, interior do estado de São Paulo, divisa com o Mato Grosso)
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João 9:25
Respondeu ele: "Uma coisa sei: eu era cego, e agora vejo".


Vim cansado e só.
Cheguei com impaciência e sorte
Esculpido em mármore como um fauno.
Nada há de sinais, nem de mesas,
Nem de outros
Velhos marinheiros como eu.
Nem relógio trouxe, para que o tempo
Estanque os cetins e os balaustres
Os relatos de muitas histórias.
Vim cansado e só, mas cheguei.
Nem prata nem ouro, nem carruagem
De madeira nobre, tampouco,
A princesa eu trouxe.
Mas cheguei, cheguei,
Como um cão perdido em mapas
Mal desenhados e frouxos.
Agora deito-me e descanso
Modestamente baixo as pálpebras
E olho para dentro deste enorme
Mar, necessário, modelado em cachos
E frescas pinturas quatrocentistas
E perplexas.

O rio amadurecido e solene

(Foto de Mauro Pereira da Silva - Rio Tietê, quase na fronteira entre São Paulo e Mato Grosso, nas proximidades de Itapura)

Dizem que além da torre existe um profundo espaço
Zangado e áspero, não tão jovem nem tão regular.
É uma voz quente de sol e jardins estranhos
Nectarinas de véspera e difíceis campos de eitos.
Lá se perde a noção de espaço e tempo, anos,
Fragmentos de risos e caminhar de flancos.
Lá se ajusta o que é indefinido e sacro,
O que é bonito e ousado, a malicia sagrada
Do sorriso e de bailes que não se findaram
Mas falta um selo, o carimbo que autentique
E transfigure os loucos concertos amorosos.

Toda a sua atenção

(Foto de Mauro Pereira da Silva)
"Teu coração bate dentro do meu
numa luta que não tem fim."
João Ricardo Scortecci de Paula

Na boca parecem curvas
Melancólicas e velhas.
Cinzento, o anjo desenhado
Com spray, no muro hirto
Carrega a paisagem
Para dentro de si mesmo,
Um diamante pela metade.
Um velho.
Uma moça.
Uma curva intolerável
Como resposta ao fundo
Do mar insano e só.
Não há respostas,
Eu sei
Na longa noite.
O fato persiste e é apenas
Uma espera descolorida.
Distante, a voz clama.
Soa longe o som
Dos anos.

Tempestade antes da forma

(Foto de Mauro Pereira da Silva)
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O mundo inteiro declina,
Enche os olhos até a borda clara e aguda
Silenciosamente, mostrando paredes como moinhos.
Tão verdadeiras são as manhãs,
De sol batendo na casa, o amor plantado na soleira,
Desabrochando no pendor da maturidade.
As frutas amadurecem.

Deslizam entre os dedos o que é novo e farto
Verdadeiro e calmo, matéria e paixão extremada
Água movendo moinhos e cânticos,
Botões de flores crescendo entre tijolos,
Respirando suavemente a ventania
Do teu corpo.
As frutas amadurecem,

Intercaladas palavras estão cheias
Do espírito e das rochas, das pedras,
Vestíbulo onde o amor adormece.
Uma caixa de frutas
Desenhadas na boca
Com uma passagem etérea.
Portas abertas para o fluir
E o desejar do templo, o invadir
das casas.