segunda-feira, março 05, 2007

Sentinela

Duas ou mais vezes ao dia me protejo.
Regresso a antigas casas, quartos
que me esconderam,
que antes juntaram pequenas partes
desconstruidas.
Não sou mais inatingivel, imensas
e crescentes aflições tomam o dia.
Bons tempos me ferem, luares impertinentes,
madrugadas indestrutiveis cintilando flores.
Já não sou mais regresso, nem conselhos
de sesmarias.

Sinais vertiginosos me saltam aos olhos
olho o chão, avisto aberturas igual aos últimos anos.
O rosto de homem transparece remontado no dia,
Um quê de nostalgico pinta as frutas
de um mercado e qualquer coisa, qualquer coisa
blinda meu peito de caipira.
Fica na boca um gosto de cassis,
mamão vermelhinho, tropas estelares
disparando armas na rua de areia.

Sigo desprendido e desusado.
Já não sou mais abrigo.
Anos decorreram, anos me obrigaram
a enxergar cristais, panos, quadros em cores,
degraus onde talvez coubessem meus passos.
Às vezes uma luz crespuscular me cega.
Às vezes uma
luz me
cega.

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