quinta-feira, janeiro 17, 2008

Rua Acre, 1047

(Na Rua Acre 1047, no Bairro de Santa Cecilia em Andradina, interior do Estado de São Paulo, passei minha infância. É interessante como uma moradia simples, rua de terra na época, alcançou esferas míticas em meu imaginário. Outro dia vi Gilberto Gil em sua cidade natal, falando de sua infãncia em uma pequena cidade da Bahia. E vi sua emoção em falar de momentos passados. O que acontece com esses dias de infância? Por que ficam marcados como cera quente em nossas mentes? Mistérios......)

Tenho uma lembrança nítida da varanda,
do mangueiral e do chão vermelho, tão próximo.
A casa era verde-claro, alguns degraus, um jardim,
um cachorro chamado Sultão que morreu vomitando sangue;
uma cerca velha, um varal cheio de roupas
alvejadas no quarador.

Às vezes passava um avião e eu não entendia
como um objeto tão pesado conseguia voar.
Dona Maria era nossa vizinha, negra forte de dentes alvos.
Seu Olívio, seu marido, bebia muito e trabalhava
na Prefeitura pavimentando ruas,
mas nossa rua não era pavimentada.

Havia também um pé de goiaba, um pé de abacate,
de urucum e de mamão vermelhinho.
Eu ouvia muito falar no mar e morria de vontade
de deitar na praia fazer castelinhos na areia
como via nos filmes da matineé no Cine Santo Antonio.

Tenho uma lembrança nítida dessas coisas
que estão hoje tatuadas em minhas mãos inquietas de homem.

Um comentário:

~pi disse...

memórias que trazemos e nos fazem.

como o sangue

nos faz.