terça-feira, janeiro 30, 2007

Sinais de fumo


Despreparado para o tempo, secretamente abatido
por galerias de retratos passados
Ainda espero algo que me eternize, em meio a balaústres pintados,
entre verdes de mar.

Aguardo sinais de fumo,
ônibus intermunicipais trazendo donzelas,
campos onde todos os dias soldados morrem.
Houve tempos em que não havia ainda cicatrizes no rosto.
À espera apenas o cineminha aos domingos à tarde,
o velhinho careca que proibia os meninos
quando o filme não era livre.
Ruazinhas secas, vermelhas, que ocupavam
o interior do homem que um dia se lembraria, aflito.

Trago flores e festas, estes sinais que agora desapontam.
Na minha loucura, no meu anseio triste de não me perder,
vislumbro postes onde um dia grudei um chiclete sem gosto
sobre o nome da garota que amava:
Sardenta e de olhos claros.
Tinha na mesa meu coração,
como seu favorito das estórias de gibis
(Tarzan, Zorro, Homem-Aranha, Fantasma enluarado),
herói sem rosto, herói anônimo de Santa Cecília,
o tímido que sabia escrever versos.

Isolado, escrevo em folhas brancas
desapontados textos onde manifesto meu espanto.
Venço pela força, venço pelo vento,
venço quem sabe, pela imensa tarde de janeiro que me cerca.
Sons de música. Sons de gente falando mais alto do que devem.
Sons de noivas, a prometida que nunca será amada.
Isolado, escrevo e me derramo, abafo promessas,
enleio trovas antes escondidas e acovardadas.
Mas o que é meu, não desfaço.
O que é meu, respeito,
e a despeito de tudo reúno forças
e vivo entre impérios.

2 comentários:

Juliana Marchioretto disse...

e de repente a gente cresce e tem o mundo esperando, só que quem decide tudo agora somos nós...

beijo

Páginas Soltas disse...

O texto está lindissimo...escrito com tanto sentimento meu amigo!

Pois é...as recordações são a fotografia da nossa memória!

Bom fim de semana...

Beijos da
Maria