quarta-feira, janeiro 17, 2007

Anotações de um caipira .4

Quando minha mãe fugiu com o namorado, meu avô ficou completamente fora de si. Era um homem realmente durão, alagoano, era filho de índios legítimos, nascido e criado numa região difícil chamada Poço das Trincheiras, próximo a Palmeira dos Índios. Mais que depressa ele arrebanhou alguns homens e colocou-se no encalço dos fujões, mas sem sucesso. Ofereceu recompensa a quem desse alguma informação, também se sucesso. O motorista do ônibus foi quem mais detalhou, falou de um casalzinho que havia adentrado o ônibus, mas haviam descido em Andradina e a partir daí, só Deus sabia qual o destino tomado. Chegou a ir a um curandeiro de nome Leobino, homem famoso por sua arte mística, por curar doença de gente e ferida de boi, que pediu uma foto do casal. Como só existia foto de minha mãe, a ele foi entregue. Depois conseguiram achar uma foto do tal Roldão, o ladrão que havia roubado a moça.

Leobino não conseguiu localizar o casal mas anunciou que a moça voltaria para casa grávida. O homem não voltaria jamais. E o interessante é que realmente minha mãe acabou voltando para casa, humilhada, grávida do filho de um empregado. O dinheiro deixado por meu pai havia acabado, os patrões, apesar de serem ótimas pessoas, pediram a casa depois de 3 meses e ela, como não tinha para onde ir, resolveu voltar para casa, cumprindo assim a profecia do tal feiticeiro. Chegou à casa do pai, grávida, mal vestida, e com uma malinha na mão. Meu avô não quis recebê-la a principio. Foi para os fundos da casa. Só alguns dias depois, após um mutismo que deixava claro sua revolta, acabou aceitando a filha. E assim, minha mãe voltou à sua vidinha de trabalho no campo.

Quando sentiu as dores do parto, no dia 23 de dezembro de 1962, chamaram a parteira, mas não nasci naquele dia. Passou-se o dia 24, o natal e finalmente, dia 26 de dezembro de 1962 nasci, às onze e trinta da noite. Minha mãe sofreu bastante, não apenas no parto, mas sofreria durante anos por ter tido um filho de um empregado, mulato e por voltar para casa sem marido. Lembro-me perfeitamente de ter visto minha mãe chorando por várias vezes, quando estas coisas lhe eram jogadas na cara. E assim vim ao mundo.

4 comentários:

Wilson Guanais disse...

levei um poema seu pra lá.

Claudia Sousa Dias disse...

Olá Phylos!

Adorei a sua visita ao meu blog!

É sempre espectacular encontara alguém que ama verdadeiramente os livros!

Não conhecia nem a obra nem a editora em questão...mas fiquei curiosa.

Também ando à procura da biografia romanceada de Chiquinha Gonzaga, de uma Autora Brasileira,da qual não me lembro o nome e que estou com dificuldade em encontrar...

Também gostaria de obter a morada da sua livraria!

Tudo de bom e até breve!

CSD

Claudia Sousa Dias disse...

Também adorei os seus textos. Voltarei para ler com mais calma!

CSD

Juliana Marchioretto disse...

sei bem dessas histórias... minha mãe foi mãe solteira, quando isso não era usual na sociedade..

beijos