sexta-feira, janeiro 12, 2007

Anotações de um caipira .3

Minha mãe trabalhava nos algodoais, junto com meu tio José. Logo, o novo contratado do meu avô começou a lhe chamar a atenção e começaram a namorar. Meu avô ficou extremamente irritado quando soube e fez o possível para que o rapaz percebesse que afinal, ele era o empregado, e a moça, apesar de trabalhar como uma besta na roça, era a filha do patrão e que ele devia manter distância. Além disso, o rapaz era um pouco escuro para o gosto do meu avô, quase um mulato, e minha mãe era loira, branca, olhos verdes....Enfim, nada de namoro. O rapaz, José Roldão de Araújo, sentiu-se discriminado e passaram a namorar escondido. Não demorou muito para que ele convidasse a moça a fugir com ele. Minha mãe contou anos depois detalhes desta peripécia. Combinaram a data e a hora da madrugada em que ele esperaria no começo da estrada que levava à Pereira Barreto. Minha mãe colocou algumas roupas numa mala velha e pulou a janela. Andaram seis quilômetros em pleno mato, numa trilha, até a estradinha onde passava um ônibus de manhãzinha. Pegaram esse ônibus e foram parar numa cidadezinha chamada Lucélia, próxima a Adamantina. Ali viveram vários meses juntos, ele trabalhando numa padaria como confeiteiro e minha mãe cuidando da casa. O patrão havia dado uma casinha para o casal morar e por isso não pagavam aluguel.

Meu pai era um homem talentoso. Minha mãe conta que ele era viciado em livros. E incrivelmente também sou, apesar de nunca tê-lo conhecido. Ele pegava vários livros, escolhia um lugar tranqüilo e ficava ali, sozinho, lendo. Era nascido em Vitória, capital do Espírito Santo e tinha vindo parar na região de Pereira Barreto / Valparaiso porque havia matado um homem em sua terra natal. Ou seja, era um fugitivo da polícia, procurado em seu estado. Não era homem de roça por isso suas mãos finas. Falava pouco do seu passado e de sua família. Era calado por natureza. Gostava de música, estava sempre com o rádio ligado ou assobiando uma canção. Depois de seis meses morando juntos minha mãe engravidou. Então aconteceu algo que eu nunca entendi quando ouvi a história, nem minha mãe. Quando ela engravidou, ele começou a ter fortes dores de cabeça. Ao procurar um médico, foi aconselhado a vir para São Paulo tratar-se, pois seu caso era grave. Ele preparou a viagem, deixou uma quantia em dinheiro com ela e prometeu voltar em no máximo 3 meses.
Na verdade, nunca mais voltou.

2 comentários:

Juliana Marchioretto disse...

nossa! também não entendi..

beijo

Brena Braz disse...

Acabei de passar na Livraria Phylos! Bacanérrimo!
Salvei nos meus favoritos pra quando eu precisar.
Bjos