quarta-feira, novembro 22, 2006

A palavra, essa maravilha!

Desde muito jovem, acredito que logo após aprender a ler, tomei um gosto especial pelas palavras. Havia nelas um mistério, um som diferente, que a maioria das pessoas talvez não percebessem, mas que eu, ainda criança, já notava. Depois, já adulto e tendo acesso a livros e outros tipos de literatura, tomei conhecimento de uma estranha classe de homens: os filólogos. Esta palavra estranha, dificilmente usada, é a profissão dos homens que praticam a Filologia, que o dicionário do Senhor Aurélio diz ser o “estudo da língua em toda a sua amplitude, e dos documentos escritos que servem para documentá-la”.

Na adolescência confundi um pouquinho filologia com filoginia, que o mesmo dicionário diz ser “o amor às mulheres”. Pois bem. Durante esta caminhada, curiosidade aqui, curiosidade ali, acabei descobrindo que certas palavras mudaram completamente de sentido, do seu significado original. Outras, sendo palavras de boa estirpe, passaram a ser palavras de baixo calão, o que não é boa coisa, em se tratando de língua portuguesa. Vamos ver alguns exemplos de palavras que mudaram de significado:

RIVAL: o sentido original desta palavra é simplesmente para designar habitantes de margens opostas de um rio. Como eram freqüentes as discussões e contendas entre os moradores das margens, o vocábulo “rival” passou a significar contendor.

SALÁRIO: era a quantidade de sal que se dava como pagamento aos trabalhadores. Depois ficou sendo o soldo dados às tropas para comprar sal. Modernamente, salário passou a significar ordenado.

QUARTO: esta palavra era usada para determinar a quarta parte. Hoje, as casa tem dois quartos, três quartos e outros cômodos maiores, como a sala, por exemplo.

ESCRÚPULO: Origina-se do latim “scrupulum”, pedrinha usada para pesar a vigésima quarta parte da onça. Passou a significar a honestidade do negociante que não queria causar ao cliente prejuízo no peso da mercadoria, generalizando-se depois o sentido.

LENÇOL: Por incrível que pareça, lençol vem do latim “linteolu” e é o diminutivo de lenço.

LÔGRO: provém do latim “lucrum”, que nos deu também “lucro”. Perverteu-se o sentido do vocábulo e “logro” passou a significar engano. Outras palavras simplesmente se melhoraram, assim como algumas se degradaram através do tempo. Vejamos alguns exemplos:

MARECHAL: etimologicamente significa “o tratador de cavalos”. Entretanto, o seu sentido se enobreceu e o vocábulo indica hoje o mais alto posto do exército.

CUECAS: esta peça de vestuário protege justamente a parte inicial da palavra. Também tem a mesma origem a palavra “cueiros”. Outra palavra que se origina daí é a palavra “culatra”, ou seja, a parte traseira do canhão, ou do revolver.

Uma palavra que teve seu significado totalmente degenerado é a palavra PUTA, que na sua origem latina (PUER=CRIANÇA), significava donzela e hoje mudou seu significado para mulher devassa. Uma das palavras mais interessantes, na minha opinião, é “CAVANHAQUE”. Eis a explicação de sua origem: é um aportuguesamento da palavra francesa “cavaignac”, originária de um substantivo próprio. O general Batiste Cavaignac, nascido em Gourdon em 1762 e morto em 1829, deixou dois filhos: Godofrey e Louis Eugène Cavaignac. O segundo, que foi candidato à presidência da Republica Francesa em oposição a Luis Napoleão, usava a barba cortada de um modo especial, pessoal, e acabou criando seu estilo, o estilo cavaignac.

Outras palavras bem interessantes na minha opinião, são aquelas que dão nome às plantas. Vejam só:

BEGÔNIA: A palavra begônia foi criada para designar uma planta originária da América, pelo botânico Plumier (1646-1706), em honra de Begon, governador da ilha de São Domingos. A homenagem lhe foi feita, em razão dele ser um grande protetor dos naturalistas tendo o termo se vulgarizado no século XIX.

MAGNÓLIA: É uma criação do botânico sueco Carlos Linneu. O vocábulo foi formado em homenagem ao botânico e médico francês Pedro Magnol (1633-1715), para indicar uma planta originária também da América. Um termo que me chamou a atenção durante muito tempo foi “S.O.S”. Acredito que a maioria das pessoas não conheça o significado desta sigla, mundialmente conhecida como um pedido de socorro. Significa “Save Our Soul”, ou seja, “Salve Nossa Alma”, apesar do pedido ser para salvar o corpo. Enfim... _____________________________________________________________ Bibliografia: “A Evolução das Palavras”. Autor: A. Tenório Albuquerque Editora Getulio Costa – Rio de Janeiro – 1944.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Mauro!
Adorei seu texto. É leve, gostoso de ler. Utilizeio para um trabalho da faculdade.
Parabéns!
Att.
RP