domingo, junho 08, 2008

Algumas impressões no Domingo

I

Minha punição
É uma espécie de florescer
Magras contusões
Viver de expedientes
e de outros.

Contra a virtude,
me disseram
É preciso gosto
Defloramento.

Minha punição é malícia
Apetite de moças
Gravidade e representação
Formal
Do verso.


II

Oro cinco vezes ao dia
Componho versos sem rima
Alternando cores
E sem quintilhas.

Brandamente
Esparramo pelo branco
Do espaço
Uma multidão de gente
Já morta
Amigos, amores, vizinhos
Numerosos como areia.

Desato o nó do peito
Jogo a tonalidade róseo-pálida
Do choro
Sobre o sol.
Não há Deus.


III

Rosmaninhos enfeitam o ádrio
Menos densas,
As pessoas ensaiam
Colocando a alma em cones
Notáveis esferas
Estremecidas.

Vivas pegadas
Deixam fundo o golpe
Na orla seca, fria
De junho.
Estradas iluminadas
No findar azul de gente
Qualquer coisa
Assim plena
Transpassada.

Em crise o dia cede
Rosáceos caules despetalados
O sétimo espírito
De Deus in vitro
Vitrines adornadas de pejo
Música
Abrindo a fenda
Que nos acomete:

Choro, riso, o peito sulcado
Por caminhos.


IV

De pronto
Só tenho o cobre da noite.
Falta uma vontade maior
Em lugar do pretérito imperfeito
Zelo por irremediáveis contos.

A mesma cidade povoa meus sonhos
Mesmas ruas, cães, carros, os muros tristes
Coisas fúteis, doces frios, moças sérias
Foi em maio,
Quando me decidi caminhando
Gerúndio destinado ao fracasso.

Fogueiras me amolam
Não tenho mais tempo,
Algumas cãs enfeitam meu rosto.

Ser escuro, ser obscuro
A mesma cor sempre
Malabarismo que já não me exprime.


VI


Um gesto
Ornato feito
De mulher
Quase queimando
O éter.

Um gesto
Peça adestrada
E cantigas.

Um gesto
Aligeirado
E seco
Em estufa.

As vinhas
(ou sem elas)
limpando a ferida
supurando

O espanto
Das gentes
E dos povos,
Tenda para o sol
inclemente

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