quinta-feira, julho 17, 2008

Não é hoje o dia

Não é hoje o dia de frestas,
De debochadas figuras desenhando postes.
Nem tampouco é dia de moças loiras
Tempestades sulinas,
Serras do rio do rastro.
Longas viagens solitárias me fizeram ser
Assim, como um bilhete curto,
Apenas um dia de sol na clareira
Uma fome de espírito e musicas.

Não é hoje, não é amanhã,
Não será jamais um dia de morte.
Ao cabo de tudo, serei apenas eu,
Ninguém mais, indo além do mundo
E das coisas, das pessoas e do tempo,
Das limas esverdeadas que delineiam
O caminho dos sons que ainda hoje ouço.

Emocionam-me estas dramáticas poses
Sorrisos que parecem monastérios
Uma irmã mais moça, um irmão perdido
Na longa noite de serenatas.
Na verdade, sou o garoto que partiu
Da cidade, e hoje não é dia de regresso.
Já fui descontraído e alegre, irmão e filho.
Tenho alguns livros, poucas coisas, um velho
Violão empoeirado, talvez uma luva de couro.

Mas hoje não será um dia de chuva,
Nem de sol, nem de figuras ao longe.
Nem será por terras, nem por canais de rios.
Nem por avião, nem por mar, sequer
Pelas porteiras abertas da fazenda onde nasci.
Porque a construção de mim mesmo é lenta
Rubra, oferta sem discussão e sem saída.
Por isso hoje não é um dia qualquer:
É um endereço claro de bem-me-quer.

Um comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

A propósito do nome deste blog, li um livro cuja acção se passava na zona ribairinha do Madeira proximo do acre na zona das seringueiras: "A selva" de Ferreira de castro. Usei-o juntamente com o filme para um dos meus debates,mas só daqui a algumas semanas é que vou introduzir o texto relativo ao comentário do livro...



CSD