sábado, maio 17, 2008

As cores e o cego

(Foto: Pedro Moreira - Porto - Portugal)
http://www.pedroxmoreira.com/


Me lembro da cor de açafrão
O capinzal quedando-se na tardes quentes,
O mugido da vida batendo forte
Poeira vermelha além do córrego
O freado de uma bicicleta
Que descia a rua
Violentamente.

Me lembro de coisas ínfimas
Borboletas amarradas numa linha
Impiedosamente presas
A laços que eu, moleque, fazia
Matando a vida, a bela vida,
Sem saber de outra linha
Mais bela, que torna a vida
Essencial.

Me lembro, de forma clara, até
Dos assobios ao entardecer
A turminha que se reunia
Na esquina da Santa Terezinha
Com a rua Acre, quando o sol
Se colocava pras bandas
Do Edifício Ema
E a rua silenciava.

As coisas que me lembro
Parecem marcas de cera
Ferro em brasa
Estiletes fincados
No mais profundo
Da carne.
Parecem cores
Em olhos de um cego.

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