Vamos voltar pra casa, disse ela.
Talvez, ele respondeu, olhando a estrada azul
Que se via além do parabrisas do carro.
Antes que seja tarde, ela disse, arrumando
A saia cheia de virtudes e inexpugnável.
Ele ficou em silêncio, escudado pelos metros
Que passavam sob os pneus do carro novo.
Estamos vivendo maus tempos, pensou ele,
O gado está magro, o capim raro e seco,
A linha do trem tem uma coisa meio que
Rançoza, de filminho trash americano.
Uma retidão impertinente, por onde se vê
Os alpendres e os terrenos plantados de
Qualquer maneira, uma coisa jogada e tal.
Acho que estamos doentes, ela disse,
E ele concordou, distraído, desviando-se
Do viralata que cruzou a estrada subitamente.
Já eram umas onze-horas e o trem das onze
Passou, sorrateiro, freneticamente, no meio
Da poeira e do tempo, rasgando a linha.
Os dormentes de peroba jogavam no ar
Nos pastos e nas pessoas um ar fétido
De podridão, alavancas, sem dar trégua
Sequer deixando que se note as andorinhas
Tardias de setembro brincando no alto do céu.
Acho que estamos doentes, ela diz, de novo,
Quase sem sentir o vento e o assombro
Quase sem sentir o vento e o assombro
E ninguém nota o maquinista do trem
Em seu uniforme de gala, nem surpreso
Nem muito atento, mas sem dúvida,
Sorrindo e mostrando seu dente de ouro.
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