sexta-feira, junho 19, 2009

Andaluz

(Foto de Mauro Pereira da Silva)
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Movimento 1.
(O campo como forma de liberdade)
Pôr em harmonia, a conta justa
De múltiplas formas
Sopro e percussão, música
De flores.

O acordo entre o corpo
É de povos e cidades
Absoluta fome,
Por estreitas salas.

Em algumas partes,
Coleções de corpos
Processam tempos
Harpejar de mãos.

Cordas desiguais
Onde somos notas
Que o som de tudo
Contradiz bem cedo.

Diversas pontes
Nos ligam, palhetas
Recíprocas telhas
De vidros abissais.

Diversos cortes
Mostram a pálpebra
Alquebrada
Listrada de vermelho.

Cerrados, campos gerais
Onde os sinais de pedras
Indicam nossas dores:
Nada mais.

Somos extremidade.

Movimento 2.
(O cavalgar relativo mas coeso)
Dar forma ao campo,
Assumir seus esteios
Curvas, traços de terra
Em caráter de úmido.

Dar forma ao cervo
Ferido por corisco,
Corintias colunas
Veias escritas em verde.

Pertencer ao rubro
Da tarde, aos rios
Divididos como a vida
Nos divide, em partes.

Qualquer ponto se aplaca
Fluxo luminoso na serra
Corpos decorrentes
Na luz espectral.

Coro de vozes juntam-se
Na realidade cinza-escuro
Ornado por ensaios
Danças e tons de rosa.

Nuvens desenham meninos
Bois, grandes cabeças
Que só os iniciados
Sutilmente percebem.

No hemisfério norte
E pras bandas do sul
Maciças fendas e tubos
Desenham meu país.

Cromos fazem a festa
Coruscantes veias,
No pescoço do baio
Em seu longo cavalgar.

Volume temos no longo trote.

terça-feira, junho 16, 2009

A cidade modelo

(Foto de Mauro Pereira da Silva)

Uma fita verde colore a cerquinha de balaústre
Em Sitio Cercado, Capão Raso, Juvevê.
Retratos de antigamente ampliam quintais
Já revestidos de cores e roupas lavadas.
Uma tal intensidade ganha forma, as ruas
São compostas por muros e pessoas.
Uma pintura moderna. Rostos literais,
Sem nada de ficção, mas contas a pagar,
Prestações, carnês mensais em juros fáceis.
Estamos no novo mundo, sim estamos,
Libertos de nós mesmos, soltos pelo espaço
Da cidade modelo. Temporais formam-se
Pras bandas da Água Verde, Batel, Centro Velho.
Um tom diferente de céu habita o sul.
Reflexos generosos compõem o bairro,
Silencioso como uma velha igreja ancestral.

De tardezinha, no bairro

(Foto de Mauro Pereira da Silva)
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O maduro da tarde desliza para sempre.
Parece anêmonas dentro do mar,
Nuvens intactas deslizando através da abertura
In loco das portas do céu, pintadas ninguém sabe.
É um espetáculo medonho de cores e sabatinas.
Concertos e madrigais construindo cantatas,
Flautas de musgos, cadeiras em mármore
Linhas insones mordendo casulos anacoretas
E pontos encardidos de sol passam em flash.
Olhos grandes e sérios pintam retratos, devagar,
Corpos de meninas, corpos de ninfetas, sem esmorecer,
Passam diante de mim, estremecidos pelo sol.
Sorrisos cintilam, temperados.

domingo, junho 14, 2009

Frei Manoel Vicente

(Foto de Mauro Pereira da Silva)
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Frei Manoel Vicente acordava cedo e dormia tarde.
Sussurrava sozinho preces malucas onde Deus era sempre menino.
Abençoava burros, cavalos, bugres que infestavam aquela terra de Santa Cruz
E em meio a flechas e rios, portugueses e franceses, índios e tapires
Costumava rir à tardinha, quando o sol derrubava seus raios pras bandas
Do mar.
O espírito do Senhor pairava sobre sobre as águas.

Pequena oração de domingo

(Foto de Mauro Pereira da Silva)
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De vez quando, Senhor,
Deixo de olhar pequenas coisas
Onde repousa imensa parte do teu poder.
De vez em quando me esqueço de beber
Água de chuva, poção mágica do céu,
Deixo de sentir cheiro de mato e em mim
Só fica o cheiro podre dos prédios.
De vez em quando não observo luas
Ou mares, ruas ou sertões, nem andorinhas
Na revoada eterna que fazem em torno da luz.
De vez em quando me lamento, caio em cruz
E choro borboletas, numa ânsia sem fim
Por eternidade e beleza.