sexta-feira, outubro 03, 2008

Pequena imagem de um dia de sol

(Foto de Ana Rita Ribeiro - Lisboa - Portugal)
www.olhares.com/anarita02


Este longo caminho, onde a noite desce
decorado com flores de pessegueiro
tendo ao lado a simetrica linha
do trem cansado que passava à meia-noite
e ia para os lados do Mato Grosso.
Uma luz distorcida jogava clarões sobre
as parreiras entrecruzadas, os bosques
onde Moura Andrade, no inicio do século
plantou sua fortuna como Rei do Gado.
Caminhos emergem entre ondas de verde
gado branco e poeira vermelha
que distorcem as formas das pessoas
longínquas, uma ilusão causada pelo
espanto de Andradina, atmosfera amorfa
ramos entrelaçados e sólidos de mato.
Forças poderosas crescem ao lado do sol
Rasteiras mudas fecundam raizes
Dunas crepitando esfumaçadas ruas
que não esqueço, mas alimento e desenho
e na memoria conservo e acaricio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse texto, depois de tantos um tanto melancólicos e aflitos, me passa a sensação de alguém a analisar um quadro, nele vendo aquilo que a falta de luz não lhe permitia ver antes. As próprias raízes cruzando-se, misturando-se a outras, ganhando forças, germinando... VIDA!
E um olhar sempre carinhoso para o passado...
A foto, como sempre, traduzindo a mesma sensação das palavras. A cadeira vazia, mas com alguém por perto, a observar todo o quadro, e a vida nascendo, aos poucos.
É o que me passa. Parabéns!
Luíza.