sábado, maio 31, 2014

ANA MARIA E OS POSTERS



Me rebelo contra o dia, seja qual for
A verdade dele,
Minha avó Mazé fazia colchas de retalhos.
É estranho como em mim o efêmero persiste.
Um quadro incompleto de cores
E formas,
Um borrão, como o retalho, o ponto em branco
Onde escrevo e sonho.
Contrafeito e louco, admiro a
Vaidade dos homens,
Procuro o sobrenatural, o juízo perfeito
Como os rododendros que a menina desenhava
Em seu caderno cheio de estampas e posters
Nos anos setenta.
Linhas onde trens às vezes se confundem.
Linhas da mão, ciganas e frouxas,
Troncos tortos, o paradoxo da vida e da morte
A mesma moeda que se joga,
Mas não se sabe onde vai cair.

A REPRESA



A temporalidade é o que se lança
No nosso rumo, a história de nossa própria divindade.
Deuses? Talvez, 
Mas o esquecimento é o descanso,
O necessário sermão que o espírito dá ao pó:
Corpo, decomponha-se, 
já não preciso de ti,
Fui seu dono momentâneo, te limpei, 
te vesti. Mas a comporta que foste não és mais,  sou livre.
Durei enquanto pude, férias de sol e luz.
Apenas o tempo é mestre,
Ninguém mais.