domingo, abril 25, 2010

Nevoeiro

Foto by João Chaves - Portugal - www.restaurantesaopedro.com

Alguém me dizia sobre a escuridão.
Poltronas velhas, alvoreceres.
Exércitos e um corredor bastante largo.
Seda branca, equilibristas e malabares.
Sapatos pesados de lama.
Um juiz e sua sentença.
A lareira e seu fogo.
Mas nada é claro.

Pequena lima

Foto by João Chaves - Portugal - www.restaurantesaopedro.com

Sempre que se ergue, a quietude das árvores trabalha em mim.
Nada desenhada ou divertida.
Mas um leve chiar de vento.
Pés que correm, desenhando na grama o desenho das mamonas.

A lassidão da curva entorpece e nada mais.
Há um choro, apenas. E um terno e atencioso olhar do lago.
Para o cassino das plantas, mais nada no mundo incomoda,
É o exemplo de tudo: o pálido céu encandescido de mariposas.
As coisas esquecidas no navio do tempo.

As tiras de luz e o espanto brigando por um espaço de asas.
Meio ocultas as margaridas reclamam: ainda não é noite.
O emaranhado da vida senta-se á beira do filme que se faz.
O desenho do momento é uma pequena lima.

Mas vê-se, de repente, livre e pequenino.

O leiteiro, o almoço e a amarelinha

Foto by J. Pedro Martins - Portugal - http://estoriasaometro.blogspot.com


Saiba que ainda vejo luzes,
Porteiras abertas,
Cavalos pastando além da linha
Onde eu aguardava o trem do meio-dia.
Ainda vejo ruas, vermelhas ruas, de lama e sol
As mães levando os filhos pela mão,
A escolinha de madeira além do bosque,
Onde eu buscava ninhos de passarinhos.
Saiba que ainda ouço trovões, vejo raios,
Sinto o cheiro do dia amanhecendo,
O leiteiro e seu cavalo com sininhos,
O homem passando de bicicleta apregoando
Conserto de panelas e de guarda-chuvas.
Ainda ouço, incrivelmente, as cantigas noturnas,
De namoro no escuro, os jogos de amarelinha,
De bolinha de gude, peão, a estrada trêmula de calor
Se perdendo pros lados do Frigorífico Mouran.
Saiba que ainda sinto o cheiro da grama cortada.
Do café sendo feito.
Ainda ouço os gritos de minha mãe me chamando para o almoço.
E estes ruídos, sons e cores, compõem o que ainda sou,
Mesmo distante e envernizado pelo asfalto urbano
De outra cidade e de outro tempo,
de outras pessoas.