Ás vezes procuro Deus na estrada
E observo o lusco-fusco dos carros que vão e vêm
Numa interminável teia multicolorida,
Como pirilampos enlouquecidos pela noite.
Ás vezes procuro Deus numa criança,
Que brinca e esperneia, ri e chora,
Sem saber ao certo do que se trata a vida
As pessoas a sua volta, e seu mundo se resume
A coisas simples, pequenas, básicas,
Como o amor dos pais, o comer e o dormir.
Ás vezes procuro Deus nas pessoas que vejo,
Algumas sombrias, algumas desconcertadas
Buscando, elas mesmas, este Deus tão desejado,
Em igrejas e livros obscuros que não levam a lugar nenhum.
Mas Deus, percebo, está em mim e quase sempre se debate
Entre o Bem e o Mal, entre o Dia e a Noite
Luta entre o Estar e o Não-estar.
Descansa seu corpo entre pequenos detalhes da vida:
Um palito, uma nuvem, um movimento na rua,
Uma escada que sobe, uma ave que desce,
Uma revoada de andorinhas como as que eu via em minha terra
E nunca mais vi aqui na cidade grande.
Deus está em mim, mora em mim.
E me empresta seus olhos para que eu veja nas coisas que me cercam
Sua silhueta desenhada nesta coisa medonha e terrível
Deliciosa e amarga,
Que chamamos Vida.