quinta-feira, março 13, 2014

POEMA AMÁVEL



Sem mais delongas
Um desconhecido rumo se configura
Em minhas mãos, desenhando a trilha.
Falei dela, deslizo por ela, mesclo-me a ela.
Mas se lhe juro amor, apenas brinco, apenas,
Deslizo pela linha tênue entre o desistir e o continuar.
Ela me olha e diz: sou o tempo, não há fuga, não há
Tristeza que não corrompo, nem alegria que me resista.
E vejo então, que o desenho está borrado,
E que não há ofertas:
Sou puramente humano, mesmo se não a amasse
Mesmo que a trilha dissipasse em mim
As travessas e os incômodos passos.

VASTOS ENCANTOS



A atenção do lírio me desafiava
Apagava minhas últimas flores
Silêncios atávicos que pareciam conversas
Embora no ar enrubescia de cólera e perfume.
É uma promessa numa Andradina que já não conheço,
Um encantamento menos que a morte,
Turvo e letal, trêmulo e menos mal
Que uma jardineira em flor.
Não se conhece ninguém que chore
Ou ao menos responda
A estes pedidos de socorro que vejo nos prédios brancos
Da Avenida Paulista anoitecendo.
Mas de vez em quando o céu se insurge por trás das pontes
E aparecem uns rasgões inconsequentes
Pequenos atos de humanidade em meio ao cimento.

É  a vida pintando-se de outra forma
Um segredo entre nós, os homens turvos e Deus.

Á SOMBRA DE UMA RAPARIGA EM FLOR



Não tem nenhuma importância
Se eu soube quem havia pronunciado meu nome
Ou até mesmo quem se despediu e tomou o barco da vida,
Tendo a sorte e o sussurro da noite à sua volta.
Jamais saberia se o cheiro do mar no estreito azul de Bombinhas,
- De uma solidão insuportavelmente gentil e próxima -,
Significava o adeus, ou quem sabe, a ponta distante do mar.
Não tem nenhuma importância se uma pequena ave pousou
Entre sua figura acesa e inclinada no espaço,
Ou se mal enxerguei o vislumbre distante da aldeia branca
Que secretamente lutava contigo,
No quadro colorido de tua partida.
Que eu sabia, nunca mais
Teria retorno.