segunda-feira, janeiro 07, 2013

PLUMA


                                            Florianopolis - Saco dos Limões - Foto de Mauro P. da Silva

Estou quase certo de que havia uma luz em frente
Um antigo poste desenhado por mestres artesãos
Onde um dia colei uma massa de chiclete mastigado.
Fiquei parado no meio da rua olhando uma lua linda
Enquanto os carros passavam buzinando e tremendo.
Fui para perto dela, a menina loira de olhos claros
E ela me olhou por cima do ombro como se dissesse,
Sai moleque atrevido, você é quase nada, arreda o pé.
Olhei para seu vestido, seus joelhos lindos e alvos
Que escondiam segredos além de mim e do fogo.
Estou quase certo de que havia uma luz em frente
Onde seu Olívio, Dona Maria, Dora, meus amigos
Me observavam, tentando descobrir em mim a dor
Do amor que nascia, tão leve e tão suave como o vôo
De uma rolinha, ainda em pluma.

ANTIGAMENTE


                      Sombrio (SC) - Foto de Mauro P. da Silva

A entrada,
Continha detalhes de mesa
Soleiras,
Jogos dúbios
Uma mulher alva.
O elemento principal
Eram os olhos enormes
De espanto,
A pele translúcida
Os quadris dóceis
Sob meu toque
Minha religião
E sofrimento.

MEIO SÉCULO


           Capão da Canoa (RS) - Foto de Mauro P. da Silva

Sei que havia uma cerca
E depois dela
Uma violenta fome de luz.
Depois disso,
Todo sacrifício era pouco
Ofertas ao tempo
Que desenrolava-se
Além do paredão da igreja.

Eu tinha um furioso gosto pela vida
As mãos em êxtase,
Um desejo ilimitado
E uma vergonha quase nada.
Estremecia.
Encarnava a vida como um lápis
Desenhando numa folha
Branca de natal.

Cinquenta anos já.
O mirante é alto,
As luzes já começam a desfiar
Os tremores da aurora.
Cinqüenta anos.
Ainda desperto em nostalgia
Toques de beijos.
Ainda contaminado
Pelo agora e pelo sol.

Ainda tenso
Diante das inúmeras
Possibilidades.