(Foto de Mauro Pereira da Silva)
Creio em selos reais, tardias moças morenas.
Sentimentos vindos de dentro, cheiro de pão assado,
Entidades misteriosas ao cair da noite.
Creio em Deus Pai, novos tempos, o finito som
Do beijo, o entendimento dos homens e das rochas.
Creio em ensaios, roxas flâmulas ao vento,
Duas ou mais lágrimas vertidas por um filme.
Quero viver, só, viver e reviver com os sentidos
Em mutação, por isso, creio na cor e no papel.
Creio na realidade tocante dos sinos, seis da tarde,
Pessoas caminhando sob a garoa fina de São Paulo.
Creio na imagem hegeliana clássica, no status
Da moça pálida que desenha seu nome na água.
Creio na razão, mas antes de qualquer coisa,
Creio na rosa e no espinho, na força da vida
Que despedaça e constrói, simultaneamente.
Creio como qualquer homem inseguro que só vê
Sombras e mais sombras, simulacros de pó
E nada mais. O fim desponta ao longe.
Não haverá flores nem limos, nada.
Creio agora, porque agora existo
E além de mim só o vago desenho da vida
Se desenha.