segunda-feira, março 30, 2009

Os fantasmas da casa da memória

(Foto de Mauro Pereira da Silva - proximidades de Maringá, nordeste paranaense)

Eu morreria ouvindo pingos d’água
e perguntando coisas,
tentando entender a tempestade e o raio
o desconhecido céu carmesim que há em mim.
As manhãs onde, mocinho, descia
Do ônibus da Reunidas e caminhava,
Mochila nas costas, mastigando o pão
Cheiroso e quentinho daquela padaria
Da rua Paes Leme, perto da linha do trem.
A luz dos deuses me daria em minutos
Respostas que não sei, uma tristeza
Quase selvagem, germinada nos dias
Longos e desesperadores de hoje.
Eu morreria por um momento que fosse
Para ver as mocinhas risonhas desfilando
Pela rua Bandeirantes, envoltas em sol,
Moças flutuantes em sua bicicletas
Pequeninas na distancia do tempo.
Minha mãe e seu vestido cinza.
Minhas tias e seus cabelos com laquê.
Minha avó e sua língua afiada.
Meu avô e seu chapéu Panamá,
Combinando com o terno claro,
A caminho da igreja.
A linha do trem e os homens
com suas biblias, caminhando.
O pontilhão, o cantar do galo
na madrugada imutável.
O lugar ou a rua onde eu parei
e não me achei mais.

terça-feira, março 10, 2009

Para além da Marginal Tietê

(Foto de Mauro Pereira da Silva - Represinha do Lago Igapó, Londrina, Paraná)

Hoje o céu vestiu-se de mortalha
cores azedas, o sul raivoso despejando água
sobre uma São Paulo aflita.
Novos itinerários.
Vestigios de alagamentos, pessoas
em silêncio refletindo sobre o caos.

(Onduladas casas ainda resistem
Ponto a ponto, no ato de esculpir um milagre
De dentro, vomita enxurradas.
E derrama sobre as pessoas uma outra
Cidade, ainda mais cinzenta e assustadora).´

É necessário orar e pedir.

A cidade que ainda resiste

(Foto de Mauro Pereira da Silva - próximo a Londrina, Paraná)
Persigo uma imagem:
desdouros descobertos
um minuto a mais de belo
reconhecer um canto
onde a palavra existe.

Por acaso também me chamo Rua
e existo onde é necessário ramos
arcos, vozes e paixões noturnas,
soma de formas e cantos febris
memorias que trago mas não traduzo.

E nada mais há de mortos
ou diálogos congelados, fotos
amareladas descrevendo noites;
minha cidade envolta em neblina
traços perdidos ao por-do-sol.

Mas descrevo o que não ressurge.
Flechas marcando o instante
a banda na praça, as moças vestidas
de carmesim, supostas e necessárias.
Tranquilas imagens alternando olhares


Em plena Avenida Guanabara, sob o céu.

quarta-feira, março 04, 2009