sexta-feira, janeiro 05, 2007

Andradina, bairro de Santa Cecilia, perto do campinho

Em Santa Cecília alguns passarinhos foram mortos.
Era tarde, a ruazinha vermelha ainda persiste em minha mente,
assim como o apito do trem das onze horas que os mais velhos chamavam de Passageiro.
Em Santa Cecília alguns passarinhos foram mortos, pés de mamonas destruídos pelo andar maroto de um menino e seu estilingue.
Uma estrada de asfalto escuro foi construída, que cortou o sítio de minha tia em dois e onde cortei o pé num caco de vidro;
Onde, certa tarde, algumas meninas me mostraram a língua (uma delas chegou a levantar o vestido), um velhinho passou vendendo
Jabuticabas negras (ou seriam azuis?), estourei uma bombinha, quase fiquei surdo e notei o céu roxo-avermelhado para os lados de Planalto, pobre e abandonada vila de arbustos tristes.
Em Santa Cecília passarinhos foram mortos.
No bairro, um silêncio de fim de ano, de fim de tarde, o dia declinando no campinho da Rua Acre, perto da escola, onde hoje existe um conjunto de prédios e onde a grama sumiu, assim como as árvores e os ninhos de passarinhos.
Na Rua Bandeirantes, próximo ao Bar do Seu João, os carros circulavam e a poeira subia até a Rinha de Galo, fechada anos depois pela Prefeitura, para alegria dos galos e das esposas abandonadas.
Alguns pássaros, confesso, foram mortos. Seria bom que as coisas não se findassem, que a noite caisse rapidamente e o coração aflito do menino conseguisse a paz sonhada,
no seu pequeno quarto, entre gibis, livros e álbuns de figurinhas.

2 comentários:

Juliana Marchioretto disse...

belo texto. como as lembranças..

beijo

Ana Costa disse...

Certamente o coração aflito do menino encontrará a paz em seu pequeno mundo, entre seus objetos mais queridos e embalado pela lembrança de um ceú infinitamente azul.

Abraço!